Foto: http://www.achabrasilia.com/
GERSON DE VERAS
Brasiliense (natural de Brasília, Distrito Federal), com 21 anos (em 1997, época publicação da antologia aqui apresentada). Época em anunciava a publicação em breve de “A Véspera do Choro”, livro de poesia.
Poeta, escreve desde os 13 anos, inclusive para o teatro.
Já esteve pelos pés da poesia em Goiânia (Goiás), Paracatú, Ouro Preto (MG) e São Paulo.
Cantor e compositor.
MENEZES Y MORAIS, org. Mais uns: coletivo de poetas. Brasília: 1997. 200 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
POESIA REDIVIVA
Que o poema sobreviva mil vezes
ainda que na voz do inimigo
ARTE FINAL (SONETO HIGIÊNICO)
...So, if we may not let the Muse be free,
She will be bound with garlands of her own
JOHN KEATS
Meus manuscritos não va-leram
se estou vivo — com muita pressa — ainda
é tida a impressão que aos olhos de alguém a palavra impressa seja
mais digna que a escrita e a ideia que contém
disse um poema qualquer meu
atribuindo a um grande sua autoria
àquele que a este muito aprecia
que não conhecia, mas reconheceu
e pa-
piro a grama atura do papel
folhas que o vento não quis
poemas pelo chão
e só os concretos
limpam o cu
com o couché
FEIRA LIVRE
A correria
os “rapas” atrás da carne
e toda mercadoria
cujo imposto não foi pago
A euforia
rapazes muito quente
(e doçura muito fria)
Formigas dançam aos pés daquela árvore
no mel de uma macumba
em pleno meio-dia
dançam porque dançam
sem pensar no mal que isso não faria
PANELAS ASSASSINAS
(Ao Compasso de Impassível Cozinhamento)
Frígida, a frigideira
frita a carne de uma rês
que por ter morrido
era uma vez...
um bife
que um patife
tirou da cutícula
da santa e ridícula
senhora minha mãe
O grande canhão a panela de pressão
cozinha
sozinha na cozinha
a carne de uma galinha
que morreu pelo agouro
de uma coruja que pensou que ela fosse
a galinha dos ovos de ouro
no que ela estrelou
comerciais na América do Sul
Morreu, coitadinha
a pobre rainha
do caldo nobre
da galinha azul
NOTURNO
Sento-me próximo à janela
Já não posso vacilar
O vento sopra autoritário
As cortinas querem me pegar
Pessoas vão, pessoas vêm
Eu não conheço ninguém
Por não ter o que fazer
versejo a rechear a empada
Melhor que o peixe, vagabundo
que não faz tudo, somente nada
Carros vão, carros vêm
Eu não dirijo ninguém
Minha mãe é quem profetiza:
“Vais pegar um resfriado”
E o meu pai com sua inveja:
“Eu trabalhando, dando duro
e você aí, sentado”
Pães vão, pães vêm
e eu não como ninguém
Da janela tudo é muito pouco
Não se vê o que se quer
um homem beija um outro
uma outra bela mulher
(ilusões do hair)
Amores vão, amores vêm
e eu não amo ninguém
Enquanto o sono não vem
não dizer que não faço nada
acaricio com ternura
o clitóris da madrugada
*
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Página publicada em julho de 2021
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